martin 50 anos depois, luta de Luther King continua atual

A mais persistente e urgente pergunta na vida de um homem é: o que você tem feito pelos seus semelhantes? (uma das frases célebres de Martin Luther King, síntese da sua vida, reproduzida no programa da peça "O Topo da Montanha", em exibição no Teatro Faap).

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Quase meio século depois do seu assassinato, aos 39 anos, o sonho de Martin Luther King, o grande líder e mártir da luta pelos Direitos Civis nos Estados Unidos, continua mais atual do que nunca, como podemos constatar pelo noticiário desta segunda-feira, com a violência e a intolerância tomando conta de um mundo doente pegando fogo.

"Lamentavelmente atual", comentou minha mulher, a socióloga Mara Kotscho, ao final da peça "O Topo da Montanha", que assistimos domingo à noite, no Teatro Faap. Com Lázaro Ramos e Taís Araújo, perfeitos em seus papeis, encenando a última noite de King num quarto do hotel onde seria morto no dia seguinte, foi inevitável compararmos o mundo da primavera de 1968 com o do inverno de 2016. Depois de tantos atentados em sequência, a questão racial está novamente no centro dos debates entre republicanos e democratas na fase decisiva da campanha eleitoral dos Estados Unidos.

Antes de falar desta belíssima peça de Katori Hall, jovem dramaturga do Teneessee, registro o clima de tensão novamente vivido pelos americanos às vésperas do início da convenção do Partido Democrata. Na mira dos republicanos, que fizeram sua convenção na semana passada, estava o movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam), a mostrar que a luta de Martin Luther King está longe de acabar.

"Oradores negros e brancos se revezaram para defender a polícia, alvo de recentes atentados no Texas e na Louisiania, e condenar o movimento que, segundo Donald Trump, está dividindo a América, com seus protestos contra agentes vistos como racistas", relata Anna Virginia Balloussier, enviada especial da Folha à Filadélfia.

"O partido de Barack Obama, o primeiro presidente negro dos EUA, vai na direção oposta. Convidou para falar, ao lado do ex-presidente Bill Clinton, mães de vítimas negras: Eric Garner (asfixiado com uma chave de braço), Trayvon Martin (que usava um capuz "suspeito") e Michael Brown (acusado de roubar US$ 50 em cigarros). Nenhum deles estava armado".

Martin Luther King também nunca andou armado, mesmo sabendo que queriam matá-lo. O problema é que não há mais um líder como ele, que dedicou a vida a lutar por seus semelhantes, enquanto pipocam Donald Trumps por toda parte do mundo, inclusive aqui.

Voltando à peça. Não sou crítico teatral nem quero tirar a surpresa de quem for ver este espetáculo imperdível em que o mito Luther King, papel de Lázaro Ramos, que também dirigiu e produziu a peça, é o tempo todo questionado pela camareira, Taís Araújo, sua mulher na vida real, revelando o ser humano em sua essência, com seus medos e fraquezas, sem nunca perder o bom humor.

A peça é isso: faz rir e chorar e, principalmente, pensar sobre o mundo que estamos deixando para nossos filhos e netos. Pais e professores deveriam levar seus filhos e alunos para vê-la. Como é impossível abrigar a todos na curta temporada programada para o Teatro Faap, meu amigo Raul Bastos, também jornalista, deu a ideia de se produzir um vídeo para apresentar seus principais trechos nas escolas e promover debates em seguida.

Vida que segue.